O Sexo dos Anjos

RIBEIRO, Schaiane

(APESAR DO TÍTULO ESTE TEXTO NÃO DISCUTE O SEXO DOS ANJOS, OU SIM, DEPENDENDO DO PONTO DE VISTA)

Nos últimos dias percebo que está em discussão novamente a questão das drogas. Na verdade, este tema nunca deixou de ser discutido, mas parece-me que toda vez que a figura de pessoas “famosas” ou conhecidas torna-se associada ao uso de algum tipo de substância psicoativa, este tema toma proporções maiores e ganha mais destaque na mídia. Logo, aproveitando esta onda de comentários sobre o uso de drogas que vem inundando nossos ouvidos nos últimos dias, gostaria de dividir algumas informações que venho recebendo de profissionais nos últimos tempos sobre o uso destas substâncias, em especial da maconha que é também motivo de debate entre as autoridades quando se trata de sua liberação ou não.
Bem, o foco aqui, não é levantar a discussão sobre a liberação ou não da maconha, mas, acredito ser importante destacar que segundo pesquisas, o uso da mesma está sim associado ao uso de outras drogas, uma vez que a maconha, o álcool e os opióides são os “primeiros passos” para uma pessoa chegar a dependência de substâncias como cocaína e crack.
O uso de maconha causa conseqüências que vão muito além da dependência, uma vez que pesquisas revelam que o usuário de maconha tem 6x mais chances de ter depressão, quanto mais envolvimento de jovens com a maconha, maiores são os índices de ideação suicida e tentativa de suicídio. O jovem usuário de maconha ainda tem 8% a mais de chances de desenvolver esquizofrenia e 60 à 80% de chances a mais de desencadear sintomas psicóticos do que um jovem que nunca fez uso desta substância, que causa comprometimento do córtex cerebral, levando ao prejuízo do desempenho escolar, patologias psíquicas e dependência, além de conflitos de ordem familiar e social.
Falando em conflitos de ordem familiar e social, lembro de um dado importante que revela que pais que sabem onde os filhos estão evitam em 12X que seus filhos tenham algum tipo de envolvimento com drogas. Este dado só vem reforçar a idéia de que a boa vinculação parental evita uma vida futura de dependência química. Quando refiro dependência química, não falo só de drogas ilícitas, mas também de tabaco e álcool, uma vez que estes causam tanta dependência e tanto prejuízo quanto outras drogas, me arrisco a dizer que o talvez o álcool e o tabaco são na verdade drogas que prejudicam o “senso de ridículo” das pessoas, afinal de contas, o que seria de Hollywod sem o cigarro? Vamos admitir, a dependência do álcool é uma doença democrática, afinal de contas podemos nos embriagar tanto com uma “Don Perignon” quanto como uma “branquinha do bar da esquina”! Caros leitores, não dêem risada, nem tão pouco se indignem, ou se indignem se isto adiantar, mas há algum tempo atrás, ficamos todos perplexos ao ver nos telejornais um carro sendo dirigido na contra-mão, há alguns meses atrás o que se discutia era a proibição da venda de bebidas alcoólicas nas proximidades de rodovias, pois bem, discutir a proibição da venda de bebidas alcoólicas com os colegas e chegar em casa, ligar a televisão e ver propagandas de bebidas alcoólicas que dão geladeiras cheias de bebidas, que dizem que para pegar leve é preciso beber, que para ser feliz depois de um dia de trabalho é preciso ter a hora de beber com os amigos, ou que para um homem ver uma mulher cheia de photoshop é só beber e olhar uma tampinha, não estamos andando na contra-mão?
Agora falando sério, é só passar por algum muro da cidade ou ponto de ônibus que podemos ver um cartaz anunciando: “tal dia, em tal horário, reunião dos alcoólicos anônimos na paróquia” e ao lado outro cartaz anunciando: “tal dia, em tal horário, baile do chope, local salão da igreja!” É isso aí, o que importa não é o que nos mostram, mas como vemos o que nos mostram. Sociedade alternativa, por favor, sem hipocrisias, senão ficaremos eternamente assim, alguns escrevendo, outros lendo, e todos discutindo o sexo dos anjos.