19/08/2009: A tarde em que me perguntei se é necessário haver uma explicação para tudo

RIBEIRO, Schaiane
Após uma reflexão durante esta tarde de 19 de agosto de 2009, instigada por uma discussão, que confesso, quando iniciada me causou certo desconforto, por não estar tendo a clareza sobre os temas abordados, meus neurônios foram instigados. Percebi que apesar das constantes leituras e buscas por conhecimentos diversos, ainda há muita coisa que necessito saber, muita coisa que não compreendo, ou talvez até agora tenha simplesmente compreendido, mas não refletido sobre a confiabilidade (e esta foi a palavra que mais despertou minha atenção) de minha compreensão.
Pensei muito sobre esta tal ciência, compreendi que esta busca constantemente ter o conhecimento confiável, mesmo não sendo absoluta; E novamente aparece a palavra derivada de confiança.
Não pude deixar de relacionar a tarde que tive com a manhã que tive, assim como se tornou para mim, impossível deixar de relacionar esta provocação intelectual com o momento pelo qual sinto o contexto social em que me encontro inserida, não apenas eu, mas todos os seres pensantes que conheço. Enfim, acabei fazendo estas analogias após pensar sobre a frase que ouvi: “o objetivo da teoria é sempre buscar encontrar uma explicação”.
Portanto, uma faísca de luz apontou em meu raciocínio e concluí que, tanto a ciência em sua forma quantitativa quanto as mais diversas áreas do conhecimento existentes, buscam explicações para aquilo que não foi explicado. Ou seja, o homem é por demais curioso, demais realmente, uma vez que busca, das mais diversas maneiras encontrar explicações ou justificativas para si mesmo. É o homem na eterna busca pelo conhecimento do próprio homem. E, esta faísca, ascendeu outra faísca, que me fez pensar porque o homem ainda não se conhece suficientemente se há tanto tempo busca este conhecimento (se é que realmente busca), e penso que por não se conhecer este contexto anteriormente referido está tomando as formas que está.
Porque será que buscamos na ciência e nas teorias que não se encaixam nos padrões tradicionais de ciência a explicação para nossa existência, para nossos atos, para nossos pensamentos? Será que precisamos nos conhecer melhor para que o contexto se modifique?
Realmente há certas coisas que para aceitarmos necessitamos de muito método científico e também de muita teoria. E talvez, não seja suficiente!
Enfim, depois de tanto pensar, talvez divagar comigo mesma estas coisas que talvez nem tenham sentido, lembrei-me de algumas frases de Nelson Rodrigues e se ascendeu mais uma faísca, que desta vez fez com que tudo se misturasse na verdadeira combustão de pensamentos e idéias que neste momento se abate em relação a instigante provocação de meus neurônios:
Será que é a ciência, em sua forma mais fiel, ou será que são as teorias que explicarão os seguintes fatos que presenciei e que se encaixam perfeitamente com minhas lembranças Rodrigueanas:
O fato ocorrido: ouvi de uma pessoa: “Ah! Que saco ler este livro, eu prefiro ver o filme”!
Lembrei de: “Ainda ontem dizia o Otto Lara Resende: — ‘O cinema é uma maneira fácil de ser intelectual sem ler e sem pensar’. Mas não só o cinema dá uma carteirinha de intelectual profundo.”
O fato ocorrido: Vi certo movimento que gritava “fora a corrupção”.
Lembrei-me de: “Ah, os nossos libertários! Bem os conheço, bem os conheço. Querem a própria liberdade! A dos outros, não. Que se dane a liberdade alheia. Berram contra todos os regimes de força, mas cada qual tem no bolso a sua ditadura”.
O fato ocorrido: Influenza A (H1N1)
Lembrei-me de: “Em muitos casos, a raiva contra o subdesenvolvimento é profissional. Uns morrem de fome, outros vivem dela, com generosa abundância.”
O fato ocorrido: Vi em uma novela uma fala referindo que alguém pode chegar ao poder sem nunca ter lido um livro.
Lembrei-me de: Nas velhas gerações, o brasileiro tinha sempre um soneto no bolso. Mas os tempos parnasianos já passaram. Hoje, ferozmente politizado, ele tem sempre à mão um comício.
O fato ocorrido: Jesus assina um certificado.
Lembrei-me de: É preciso ir ao fundo do ser humano. Ele tem uma face linda e outra hedionda. O ser humano só se salvará se, ao passar a mão no rosto, reconhecer a própria hediondez.
O fato que ocorre neste exato momento: Parei para pensar em tudo isto! E nem sei se posso confiar nisto que pensei!
Acabei de lembrar-me: “Entre o psicanalista e o doente, o mais perigoso é o psicanalista”.
Esta última lembrança me faz neste momento encerrar este texto, antes que eu começe a refletir sobre porque lembrei justamente desta frase, se nem sou psicanalista.

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