Conforme estudos realizados no grupo de estudos Mediação de conflitos: perspectivas teóricas e processos de intervenção, do qual participo, juntamente com colegas da Escola de Psicologia, observa-se que no primeiro capítulo O Ofício do Mediador, Warat (2004), coloca que o papel do mediador passa pelo ato de provocar, estimular e auxiliar as pessoas na compreensão de algo.
De forma quase poética o autor expõe ao leitor que o homem em muitas ocasiões deixa-se envolver pelo próprio ego, não se permitindo assim a escuta do outro, o que o leva a ter de buscar soluções para seus confrontos através de um terceiro. Usando o termo mestre como metáfora, o autor expõe ainda que a função deste mestre é ajudar seus discípulos, porém não os manter presos a si. Entende-se por esta metáfora, o sentido do mediador, que na condição de mestre auxilia seus discípulos, aqueles que o buscam, para que encontrem a saída que tanto desejam, fazendo assim com que não permaneçam dependentes de suas decisões.
Warat (2004) faz uma explanação sobre o ego e sobre os sentimentos humanos que geram conflitos tanto existenciais quanto conflitos entre pessoas. Estas explicações revelam que o ser humano constitui seu ego através do convívio com o ambiente onde se insere, o aprendizado o torna homem na medida em que convive e observa os outros homens. Logo, o mediador também tem que ter a consciência de que sua criatividade também está sendo formada através do convívio com os demais, por isto a importância da sensibilidade do mediador para ouvir o relato do outro e para conseguir se manter neutro nas questões, pois através da neutralidade conseguirá proporcionar ao outro que pense em soluções sem entregar a este soluções prontas. O mediador deve compreender o problema sem criar conflito com ele, pois se criar um conflito com o problema, não conseguirá mediar às partes.
A questão da neutralidade fica clara quando o autor se refere aos sentimentos de medo e de raiva. Segundo ele, se o mediador deixar transparecer estes sentimentos a mediação está fadada ao fracasso, por isto Warat (2004) coloca que: “... não poderemos ser reais em nosso silêncio”.
Segundo o autor anteriormente referido, o mediado precisa ser espontâneo e autêntico para que a mediação ocorra, ou seja, ele precisa querer ser mediado e para isto, se libertar das aparências.
O mesmo coloca ainda que se faz necessário sentir o conflito, para que então seja possível instigar pensamentos de ação sobre ele. O mediador não intervém no conflito, mas sim ajuda as partes a olharem para si para que possam compreender seu conflito.
Para Warat (2004), a mediação precisa ser feita com sensibilidade, onde os mediados necessitam estar com seus conflitos internos resolvidos para que então possam resolver seus conflitos entre si. Para ele, o ego e a mente geram os conflitos internos, uma vez que a mente produz pensamentos que poluem os sentimentos, surgindo assim, o conflito. Logo, o mediador deve estar também mediado, e entender o valor da não resistência.
Segundo o autor, o mediador deve sempre estar disponível para que as partes se sintam à vontade, sendo que mais importante que a comunicação é a comunhão entre as partes. O papel do mediador se assemelha ao de um psicoterapeuta de vínculos conflitivos, entretanto, não tem a capacidade de interpretação que tem o psicoterapeuta. O mediador apenas faz a escuta, mas não tem o conhecimento para interpretar as questões do outro.
Warat (2004) ainda ressalta a importância da autonomia. Segundo ele, a mediação está ligada ao desejo de autonomia, pois, aquele que se propõe a mediação tem a possibilidade de encontrar saídas para suas questões, sem a imposição de um terceiro, uma vez que o mediador não faz o papel nem de juiz, nem de advogado e nem de psicoterapeuta.
Nestas primeiras 55 páginas, o autor aborda questões da existência humana para que então se possa compreender o sentido da mediação, abordando características comportamentais e principalmente falando de sentimentos, Warat (2004) dialoga sobre a mediação como uma forma prática e válida para resolução de conflitos entre os seres humanos, no entanto, enfatiza que para se conseguir a resolução para pos conflitos entre si, tanto o mediador quanto as partes medidas necessitam ter, primeiramente, a resolução de seus conflitos interiores. Além desta característica, o mediador ainda deve contemplar outras características humanas, como a sensibilidade, a compreensão e a ética para com os demais, proporcionando assim, com que os mesmos encontrem a medida do amor para assim encontrarem a solução para seus conflitos.
Referencial Bibliográfico:
WARAT, Luis Alberto: O ofício do mediador. In: Surfando na Pororoca. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2004.
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