POR: RIBEIRO, Schaiane.
Artigo publicado na coluna Comportamento e Atitude. Caderno DM em Revista, Jornal Diário da Manhã.
23 e 24 de junho.
Artigo publicado na coluna Comportamento e Atitude. Caderno DM em Revista, Jornal Diário da Manhã.
23 e 24 de junho.
É perceptível, por meio
das expressões artísticas, que os animais sempre estiveram presentes na vida do
homem. Nas famílias contemporâneas, a introjeção de animais domésticos vem
ganhando significativo destaque nos meios de comunicação, e os animais de estimação
são vistos por muitos, como membros da família.
Entretanto, ter um cão,
gato, ou qualquer outro animal requer, além dos cuidados animais, um cuidado
emocional aos seus cuidadores, pois uma vez que exerce um papel de membro da
família, a morte deste causará dor e tristeza e, este luto que passará a ser
vivido pela família deve ser observado com cuidado e respeitado, pois se trata
de uma dor que se não resignificada pode levar a sintomas depressivos. A morte
de um animal de estimação leva a reflexão da família sobre o que significa a
vida e mostra a dificuldade dos homens em entender ou aceitar a morte, seja de
um animal ou de um ser humano. Falar sobre a morte não é tarefa fácil, mas é
tarefa necessária.
Desde a existência do
homem, as questões de vida e de morte fazem parte dos questionamentos deste.
Nada, nem a ciência, nem a religião e nem a história da humanidade intrigam
mais o homem do que a morte e o que é circundado por ela. Poetas, escritores,
músicos, artistas, cada um na sua singularidade vive a morte e o que ela produz
de forma triste, bela, feia, passageira ou eterna, dependendo de suas
percepções de vida e de suas experiências subjetivas.
O que fica é a certeza
de que ela existe. O que tem depois? Não se sabe, mas se sabe o que tem antes,
e o que tem antes, chama-se Vida, em suas mais variadas formas, em seus mais
diversos contextos, em suas mais diversificadas expressões. Se a vida tem uma
cor, a da morte não sabemos, se a vida tem um sabor, o da morte não sentimos,
se a vida tem um significado, o da morte com certeza é fruto do que a vida um
dia significou. Para tanto, saber viver implica também em pensar sobre as
questões da morte, refletir e concluir que para cada ato de vida, há um ato de
morte, sim, pois vive e morre-se concomitantemente (ao passo em que respiramos
para viver, eliminamos células mortas de nossa pele).
Este é o ciclo de nossa
história, perdemos e ganhamos, sentimos e fazemos sentir, temos o outro e somos
para o outro. Assim como estamos para a vida, nossa vida está para nossa morte.
O que fica é história.
Para melhor embasar o
que escrevo, cito a autora Kovács (2005) que comenta em seu artigo “Educação para a morte” que as pessoas
se utilizam muito da fantasia da imortalidade, negando a existência da morte,
pois só assim é possível sonhar e ir em busca dos seus sonhos. Com o luto mal
elaborado, diz a autora, a saúde mental entra em crise e a depressão, e tantas
outras doenças, pode(m) vir à tona, pois o luto precisa de um espaço para expressar
a dor existente. Em detrimento do luto mal elaborado, a depressão vem sendo uma
doença que cresce muito nos tempos atuais.
Aqui cabe também um
sinal de alerta para os profissionais da saúde que por presenciarem a dor
alheia, muitas vezes se afastam da suas atividades por sofrimento mental. É
provável que este profissional por ver a dor do outro não tenha dado espaço
para trabalhar com a sua dor.
Quando morre um animal
de estimação na família, é preciso viver este luto, permitir as lágrimas e o
sentimento de dor. É o momento de a família olhar para si e refletir sobre o
que significa esta perda. Trabalhar esta dor é necessário para que este
sentimento de perda seja resignificado. Uma morte na família é sempre uma morte
na família e é preciso ser vista como algo a ser vivido e superado,
independente desta morte ser de um humano ou de um animal. A morte é conhecida como um acontecimento desencadeante de
vários sentimentos entre eles, de perda e consequentemente de dor e sofrimento,
assim, trata-se de uma dor psíquica muito grande, geradora de uma dinâmica de
funcionamento incompreensível, para aqueles que não estão vivenciando o luto.
Na espécie
humana a dor psíquica diante da morte pode ser considerada fisiológica, mas sua
duração, intensidade e resolução vão depender, muito provavelmente, de como a
pessoa experimentou a vida. Para quem tem um animal de estimação, observe como
este é resiliente as adversidades do dia a dia, como se soubesse que a morte
não dá aviso de chegada. Para quem perdeu um animal recentemente, viva seu
luto, mas tenha a clareza de que a morte, tem seu momento de ser, para homens e
animais, certamente seu amor por seu animal de estimação não irá findar, mas
precisa ser transformado em uma doce lembrança. É preciso ser resiliente e,
talvez resiliência não seja apenas um conceito, mas sim, uma regra da vida.
Este artigo
é dedicado a Tita, que nos deixa após 13 anos e 4 meses de alegrias.
Ao citar este artigo indique fonte.
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