Psicoterapia de casal? Psicoterapia de família? Será que eu preciso?

Artigo Publicado na Coluna Comportamento e Atitude do Caderno DM Em Revista, Jornal Diário da Manhã.
Por: RIBEIRO, Schaiane

Durante o transcorrer desta coluna, pudemos verificar que as relações conjugais e familiares fazem parte de um sistema. Entretanto, ao pensar na busca pela psicoterapia de casal ou de família os sujeitos frequentemente se perguntam: Psicoterapia de casal? Psicoterapia de família? O que é isso? Eu preciso? Por quê?
Pois bem, este artigo não tem pretensão de responder estas questões, mas sim, trazer alguns apontamentos que possam levar os leitores a reflexões sobre seus sistemas familiares, para isto, peço licença para respeitosamente citar alguns autores que me proponho a estudar e que certamente servirão de auxilio para a curiosidade em relação a estas questões.
Conforme traz o autor Schenker (2008), a qualidade do vínculo afetivo familiar relaciona-se ao estilo de criação. Os valores familiares podem influenciar seus membros porque a transmissão de suas regras e sua prática é atravessada pela qualidade do vínculo emocional entre os adultos membros da família, que por sua vez, influencia a educação dos filhos e a constituição da sua maturidade, sendo que a aprendizagem dos valores e comportamentos é resultado da congruência que se obtém entre os membros de um sistema familiar  em sua trama de convivência a partir de mudanças estruturais recíprocas que ocorrem ao longo de sua história de interações.
 Da mesma maneira o casal contemporâneo é confrontado, segundo Féres-Carneiro (1998) o tempo todo, por duas forças paradoxais: individualidade e conjugalidade. Se, por um lado, os ideais individualistas estimulam a autonomia dos cônjuges, enfatizando que o casal deve sustentar o crescimento e o desenvolvimento de cada um, por outro surge à necessidade de vivenciar a conjugalidade, a realidade comum do casal, os desejos e projetos conjugais.
Ao continuar o diálogo, cito Schenker (2008) ao colocar que os valores familiares não são uma entidade existente fora dos sujeitos e de suas relações primárias, alguns são decodificados a partir da cultura, outros reinventados pela família, em um processo permanente de co-construção.
Pessoalmente, confesso que sou admiradora da obra de McGoldrick, que em uma de suas obras, reeditada em 1995, pontua que embora culturalmente o casamento ainda venha carregado de romantismo,  pode ocultar determinados problemas, geradores de crises de difícil superação, pois os casais precisam viver uma constante adaptação do próprio ciclo da vida conjugal, como a chegada dos filhos, adolescência dos mesmos e questões externas que certamente influenciarão de modo direto ou indireto nesta relação conjugal.
O poder da terapia familiar deriva-se de juntar pais e filhos para transformar suas interações. Em vez de isolar os indivíduos das origens emocionais de seus conflitos, os problemas são tratados em sua fonte. O que mantém as pessoas estagnadas é sua grande dificuldade de enxergar a própria participação nos problemas que as atormentam. Com os olhos firmemente fixos no que os outros estão fazendo, é difícil para a maioria das pessoas enxergarem os padrões que as unem. A tarefa do terapeuta é acordá-las para isso (NICHOLS e SCHWARTZ, 2007). Estes mesmos autores chamam este processo de conversão do pensamento linear em pensamento circular, onde não se pensa em causa e efeito ou vítima e agressor, mas sim em um movimento circular de interação recíproca. No momento que se insere uma mudança de comportamento neste circulo, todo o sistema se altera, gerando mudanças também em seus indivíduos. Assim, a terapia familiar não busca apenas mudar o paciente no contexto individual, mas provoca mudanças em toda a família, portanto, a melhora pode ser duradoura, porque cada membro da família é modificado e continua provocando mudanças sincrônicas nos outros.
Voltamos a nossa frase de todas as colunas: “tudo é relacional.” Certamente, dar-se a oportunidade de trabalhar questões familiares e conjugais, é uma tarefa que requer disponibilidade do casal ou da família, pois em alguns momentos “as poltronas podem ter espinhos”, e será necessário conseguir trabalhar cada um deles, mesmo que ao tempo do casal ou da família. A psicoterapia de casal ou de família com certeza irá modificar o sistema corrente, uma vez que, acredita-se que nomear um casal ou uma família de “desestruturada” é uma forma indelicada de colocar uma tarja nos sujeitos envolvidos, afinal a estrutura existe, apenas pode estar desfuncional.

Caro leitor, aproveito a coluna de hoje para agradecer as manifestações positivas referentes a artigos anteriores. Lembrem-se: “tudo é relacional”. E, a respeito da psicoterapia de casal e família, desejo boas reflexões e que estejam abertos para seus relacionamentos e para o entendimento da dinâmica destes.

NÃO ESQUEÇA: Ao citar este artigo, indique a fonte.

Comentários